segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Domingo, dia 09.08.08 Visita a Benguela (post atrasado)

Isto hoje vai sair grande por isso…cuidado com os olhos!!

O meu último dia no Lobito antes de ir passar uma semaninha de trabalho ao Lubango (irei amanha), foi passada entre algum descanso, preparações de última hora e um belo passeio à capital da província, Benguela. Foi com certeza uma viagem inesquecível, como poderão ver pelas fotografias. Assim que se sai do Lobito, entra-se num mar de estradas em construção, ruas esventradas à direita e à esquerda pelos chineses ou pelos brasileiros (ex.: colocação de fibra óptica), obras por todo o lado, pó que nunca mais acaba…o trânsito é um caos, ultrapassagens pela direita e pela esquerda, não há faixas nas estradas, pelo que por vezes acontece sermos ultrapassados quer pela esquerda quer pela direita ao mesmo tempo, algo do género…lata de sardinha…se há espaço para dois automóveis e uma mota, então vamos lá testar bem a largura da estrada…é um stress…

Grande Sr. D. que teve de ir com atenção triplicada, sempre a olhar para todos os espelhos do carro, e ainda ia a explicar curiosidades que entretanto aconteciam, não é fácil…garanto!!!

Não se vê um único semáforo, ou um sinal de trânsito, como por exemplo um sinal de sentido proibido. Se não existem sinais deste género, como é que sabemos em que rua virar? Pois…não sabemos, claro está que estes portugas se enfiaram por algumas ruelas de sentido proibido, durante as quais fomos olhados de esgueira com sentido crítico, mas vejamos…só quem conhece é que eventualmente poderia saber, de outra maneira, entra-se em qualquer rua e espera-se pelo pior. O pior acontece frequentemente, trata-se de uma mota ou um jipe a 160km/h em ruas que no máximo aguentam 80km/h…o que acontece? Acidentes frequentes. Não é a primeira nem a trigésima vez  que se ouvem travões a fundo e gritos…o que não falta é jipes a baterem em motas ou carros uns contra os outros…o pessoal acelera a olhar pró lado…anda no meio das estradas, e depois claro está cai, magoa-se e faz dói-doi, “fica depois incomodado” durante vários dias.

Bom mas como ia a dizer, fomos de Lobito a Benguela pelas estradas esventradas fora. A paisagem natural é…de um lado vegetação, bananeiras, palmeiras, grandes campos de intenso verde, parece que estamos mesmo na selva, só não se vêem animais selvagens, (algumas cabritas e bois apenas), de resto parece que estamos fora da civilização, de vez em quando “fisgam-se” umas construções pré-fabricadas onde os chinocas dormem, é o poiso deles. Mas não são uns pré-fabricados quaisquer, estão muito bem assinalados, com direito aos candeeiros chineses característicos a marcar cada um dos extremos da porta principal da entrada para este complexo.
Do outro lado da estrada, erguem-se montes secos (os tais tipo Afeganistão) onde se plantam aldeias com milhares de casas.



O aspecto é sempre o mesmo e embora já tenha visto e revisto esta imagem 500 vezes, parece que me continuo a surpreender sempre que a vejo, pois pelas minhas contas já tirei cerca de 30 fotos semelhantes desde que cheguei a Angola. É que o aspecto é tão mau mas tão mau… que impressiona e cativa o premir da fotografia incansavelmente. Bom, mas deixo aqui mais algumas dessas imagens**, é de facto uma paisagem comum a todo o País infelizmente.






Curiosamente ao passarmos de carro vemos as pessoas a rirem e a conversarem à beira da estrada, onde, como já mencionei, vendem os seus bens, sobretudo frutas, vegetais e peixe. È incrível como é que esta população tão pobre, com condições abaixo das moralmente dignas, consegue pelo menos “parecer” feliz. As crianças brincam à apanhada, ao jogo do mata, jogam futebol, correm para trás e para a frente, divertem-se muito, os adultos riem-se e conversam todos ao mesmo tempo, é algo que nos faz alguma impressão, mas pela positiva claro.

Finalmente chegámos a Benguela, metemo-nos com certeza por alguma rua de sentido proibido mas rapidamente alcançámos a “marginal”…e logo se seguiu uma vista magnífica sobre o mar, onde centenas de jovens e crianças se banhavam e brincavam. Resolvemos sair do carro e palmilhar esta terra. Logo encontrámos juventude animada e o Sr. M.P. imortalizou-me numa fotografia com as meninas mais lindas de Benguela, futuras Misses com certeza.



Todas andam na escola, por isso fazem parte do futuro de Angola…muito importante!!! Ficaram doidas quando lhes pedi para se juntarem de forma a enquadrarem-se na moldura, sorrisos e mais sorrisos, não dava vontade de sair de junto delas.



Estava um dia quente e húmido, em que o Sol finge não queimar e não ferir os olhos. Muito bom para passear ou para beber uma Cuca numa confortável esplanada com vista para o Ocenano. Ora bem, claro está que este grupinho de jovens trabalhadores lusitanos já com a garganta seca foi mesmo prá bela da Cuca (cerveja angolana, eu optei pela tradicional Coca-cola), com direito a vista para o mar e lá ficou a deliciar-se com aquele quadro marítimo durante alguns minutos.


Durante esse período muita coisa acontece, desde miúdos pequeninos que nos pedem dinheiro em troca de engraxar os sapatos, ou em troca de nada, pedem porque estão carentes e pronto, a miúdos que “atacam” os pratos repletos de comida dos clientes da esplanada e que rapidamente são corridos pelos polícias que patrulham a área. Depois vêem-se Hummers (jipes de luxo) a passearem-se pelas ruas. É uma tristeza, tantos contrastes, riqueza e pobreza nuns poucos metros.


Éramos 4, mas para não variar colei-me ao Sr. M.P que muito me ensina nestas caminhadas, graças à sua extraordinária cultura geral e grande curiosidade em aprender mais sobre esta terra. Também diga-se de passagem que não é difícil impressionarem-me, sou bastante ignorante em termos de cultura geral, mas tento beber tudo o que me dizem, e por norma não me esqueço, é tudo tão interessante... mas só à conta desta viagem já aprendi muitas histórias importantes sobre os caminhos de ferro portugueses (experiências dos meus colegas seniors) e sobre a vida em geral, Obrigada senhores!!

Depois de muita caminhada, embora ainda cedo, já o Sol ameaçava pôr-se, voltámos de regresso, eram quase 5 horas da tarde. Fizemos o trajecto inverso mas decidimos não parar no hotel, continuámos até à Restinga, quem sabe não era desta que via alguns flamingos…Marguinha, não tive essa sorte novamente, sorry, mas foi curioso aperceber-me que o Angolano gosta e sabe como divertir-se aos fins-de-semana. Ao chegar à Restinga, imaginem uma língua de terra que se prolonga no mar, começamos a ver três filas de carros estacionados, não me perguntem como é que o pessoal da primeira ou da segunda fila sai, eu desisti de entender…devem sair todos aos mesmo tempo, devem conhecer-se digo eu…bom, toda a gente enfiada nos bares tropicais à beira mar…música e diversão com vista para o mar, 5 estrelas…receita para uma bela tarde de domingo.
Mas não é tudo porque o domingo é longo e a festa também, só às 01h da manhã é que o silêncio se apoderou das ruas do Lobito, até então era festa sem parar, ora na rua da frente ora na rua de trás, pum pum pum “musica de preto” é prá abanar mesmo sem cansar, all night long…mas espera aí…amanhã é dia de trabalho e esta gente anda na farra?…pois ora bem mas o lema dos angolanos é: “hoje é hoje, amanhã é amanhã”, percebem a ideia não é?? É que o meu lema não é bem esse, é mais do género “vou-me deitar cedo para cedo me levantar, pois é dia de trabalho!”, sou mesmo tonhó, eu sei…nada africana, muito embora estas bochechas comecem a escurecer de tanto sol que apanhem, é só mesmo casca, por dentro sou europeia e pronto, nada a fazer, não tenho o bum bum, nem o ritmo da pretinha, felizmente também não partilho do cheiro (ui esta gente quando se junta emana um cheirooooo…amigos, novamente não é fácil, acreditem).

Bom mas o dia foi bom, passou-se muito bem, em excelente companhia, o Sr.D., é um guia turístico do melhor. Por acaso saiu-me a sorte grande… saíram-me quatro pessoas completamente distintas…o Sr. J.S. é um que nunca falha, está sempre a tratar daquilo que faz falta, é um coração gigante, multifacetado que não deixa que as coisas corram mal, sim mesmo em Africa, sim eu sei…estão a pensar que isso é impossível, mas acontece e no meio de tanto “Sim Sim” dito pelos negros, e de “nada que acontece”, sabe bem ter uma pessoa assim, 5 estrelas, só diz um Sim e tudo acontece. Depois temos o Sr. M.P que nos premeia pela sensatez e experiêcia de vida, afinal 65 anos de histórias e conhecimento enchem a alma dos mais piquenos como eu. O Sr. D.R é uma risada, no meio de tantas histórias e experiências surreais, tem sempre tempo para incluir umas experiências gastronómicas no meio…desde abutres deliciosos a cobras gorduchas, a tomatinhos de boi marinados…(enfim, tudo isto à hora de almoço, também não é fácil), saiu-me a sorte grande, nem me passaria pela cabeça, aqui fica um “Não há maca” aos meus colegas, que amanhã ficarão no Lobito e eu parto sozinha mas cheia para Lubango… mais uma aventura desta destemida branquela.

4 comentários:

PoPey disse...

Oi menina !!

Gostei de sentir a tua história !! Foi mais uma daquelas tuas descrições que me deixam colado ao monitor a sorver tudinho e a viver cada palavra que escreves !! Mas olha, tens de dizer aí aos colegas que a cerveja CUCA não é a melhor. Eles concerteza que conhecem a N'GOLA. Essa sim é uma EXCELENTE "Bjeca" :-) :-). E se ainda não provaram estão sempre a tempo !!

Força para a tua semanita aí no Lubango !! Sei que estás com dificuldade em ter água e luz (bens essenciais, não acham??) mas aproveita para descansares !!

Beijo grande !!

Anónimo disse...

olá.Já vi que estás encantada com a pátria dos mais escurinhos sem praia.Estou fascinado com o teu poder de escrita a relatar acontecimentos. Por que não mandar imprimir um livro com esses relatos e quem sabe se nasce mais um best-seller! Força e determinação não te faltam para terminar esta aventura com sucesso. Felicidades titó

Anónimo disse...

ah que bom que a minha escrita não é enfadonha...pelo menos além de me entreter a mim, entretém aos meus mais que tudo, fico contente. Vou continuar...

PedrinhoSSM disse...

Mais uma aventuram, desta vez Benguela.

Que confusão de transitos, sem sinais e radares. Imagino ser ultrapassado pela esquerda e pela direita! Enfim.

Sobre a foto que tiraste com as "misses" angolanas! Quero ver isso, hehe.

Dia a dia é o lema dos angolanos. Vamos viver o maximo que pudermos hoje e o amanhã quando chegar chega.
Jokinhas, eu.