segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Lobito, dia das Eleições, 05 de Setembro de 2008

Hoje é dia 6 de Setembro e estou a escrever da sala de espera do aeroporto internacional de Luanda…estou a aguardar a chamada do voo que me vai levar de volta a CASA!!!!!

Como o tempo de espera é grande e a bateria do pc também permite, vou divagar um pouco sobre o que foi, aos meus olhos, o dia mais importante dos últimos anos para os angolanos – o dia das eleições legislativas, a 2ª acção deste género em toda a história do país.

Desde que cheguei a Angola que fui bombardeada com publicidade sobre civismo e eleições (TV, rádio, panfletos, cartazes, posters, outdoors). Foi impossível ficar imune ao contágio desta “epidemia” que se espalhou por todo o lado, com certeza em pouco tempo. E fui mesmo contagiada, porque o meu desejo de participar neste evento foi crescendo a cada dia…a ansiedade, o nervoso miudinho e também a alegria de ver um país a recompor-se de uma forma excepcional, levou-me a querer no mínimo, registar o maior número de detalhes possível sobre este grande acontecimento.

Para começar a publicidade na TV apela ao voto de uma forma muito terra-a-terra, nada política. Os anúncios mostram por exemplo uma família, como tantas outras angolanas, que decidem construir a sua casa e vão a votos. O intuito deste anúncio é o de mostrar que um indivíduo que não votou, poderia ter tido um papel importante numa decisão que lhe era fundamental. Claro que todas as publicidades deste género terminam com música, uma melodia muito popular com letra muito clara: Todos Ao Voto! Todos Ao Voto! Não há africano que não comece a abanar a anca assim que ouve esta música, e só isso já ajuda ao voto, até mais do que a encenação da casa.

Aqui a música exerce um poder indescritível sobre as pessoas. Elas nascem com um sentido de ritmo impressionante. Até nas filas de supermercado as pessoas dançam e cantam ao som da música ambiente que passa baixinho nas colunas, o Kizomba. Em Portugal se alguém tivesse esta reacção seria considerado Maluquinho…é muito giro ver isto e mais do que isso…eu concordo com esta maneira de ser, bem mais alegre e descontraída!

Bom como ia a contar, o contágio foi total, além das publicidades seguiram-se comícios dos respectivos partidos, em que a adesão era fenomenal. As pessoas apoiavam os seus líderes, aplaudiam, assobiavam, gritavam, dançavam…todas as reacções eram bem-vindas…porque afinal traduziam a alegria e a segurança que finalmente começam a sentir de forma sólida no peito…Claramente existe despreocupação, ninguém olha para trás, ninguém receia expressar-se, bem pelo contrário…quem imaginaria ver nas ruas de Luanda bandeiras do MPLA a menos de 5metros de distância de bandeiras da UNITA? Quem imaginaria que o mesmo local serviria de comício para dois partidos diferentes? Impensável…em 1992 o local seria primeiro destruído e só depois seria cedido ao 2º partido…é triste mas era esta a realidade da altura, daí os acontecimentos que depois tiveram lugar nessas eleições.

Chegara a famosa sexta-feira dia 5. Depois de ser dada tolerância de ponto na tarde de 5ª feira, para que as pessoas pudessem começar a preparar-se e deslocar-se para os locais de voto (atenção que aqui a maioria das pessoas desloca-se a pé, de forma a cativar as pessoas para o voto, foi importante dar tempo e oportunidade). Fui convidada pelos meus novos amigos da Secil Lobito a observar as eleições em vários pontos do Lobito, então por volta das 10h seguimos para o local onde o Sr.HC iria exercer o seu direito de voto…Como as filas de espera eram grandes, as pessoas poderiam memorizar a cara do seu líder ou a bandeira.

Quando chega a vez da pessoa votar, pois então é-lhe dado o boletim de voto e depois de assinalar a sua escolha e de inserir o boletim na urna, chega a hora de garantir que esta pessoa não votará mais de uma vez nestas eleições…molha-se o dedo em tinta que permanecerá na pele durante 24h, no mínimo.

Podem achar estranha esta acção, mas de facto é inteligente. Porque o sistema informático ainda é pouco fiável, porque os registos e a comunicação podem falhar, e porque as pessoas podem votar em qualquer mesa de voto que lhes fique mais próximo, de forma a optimizar a deslocação de todos. Há que garantir que ninguém vota duas vezes, nada melhor que um carimbo semi-permanente J

Mas mais do que isso, esse carimbo trás consigo um espírito de união inimaginável. Muito interessante é perguntar pela “prova do crime” às pessoas e notar um sorriso rasgado sempre que mostram o dedo pintado…ninguém ficou ileso, todos levaram com a célebre tinta…e há orgulho nisso. Daquilo que vi, as eleições correram de forma muito pacífica e ordeira, pena é que houvesse falta de organização e que isso trouxesse consigo falta de recursos, nomeadamente materiais. É muito triste ver pessoas que andaram muitos kms para poderem votar e quando chegam às mesas de voto não havia boletins de voto…acabaram, esgotaram! Isto aconteceu em vários pontos do país, inclusive em Luanda, onde ainda a esta hora (20.00) creio que decorrem os últimos votos. Este acontecimento tem sido alvo de grande atenção por parte de todo o Mundo. Observadores vieram de todos os cantos do planeta relatar o que viram. É um momento histórico que não podia falhar. O mais importante foi assegurado, a segurança das pessoas! Faltou a organização, poderá acontecer que o líder da comissão organizadora seja demitido.

Gostei de poder presenciar este momento e espero estar cá novamente quando forem as eleições presidenciais, daqui a um ano, por volta desta mesma altura.

Abraço.

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá
Pelos vistos tiveste mais uma experiência única e inolvidável.
Pensei que o dedo tintado era apenas para que aqueles que não sabiam ler e escrever pudessem votar, e não para evitar a repetição do acto!!
Aqui não é a distãncia que impede os portugueses de irem ás urnas...basta que chova, que o tempo convide à praia ou que as eleições se realizem em um fim de semana prolongado.

Regressaste...interinha e linda..
é tudo que mais me interessa!
Miljinhos