tour@Catumbela

Hoje foi um dia muito bom, para variar além do calor esteve céu limpo...sim o dia todo! Maravilha, foi um bom presente. Acordei ás 03h da manhã sem sono e aproveitei para comer, trabalhar, organizar a formação da semana e despachar emails. Às 08h já estava a ver a pinguinha e o popey através do skype, nada melhor para começar bem o dia. O popey foi comprar roupinha nova para a pinguinha porque já fazia falta e só comprou coisas giras, foi muito engraçado ver o desfile de moda pelo skype. Obrigada popey!!
A meio da manhã deu-me o soninho mas como estava muito barulho não consegui dormir e decidi aproveitar 1 horinha de sol antes do almoço, fui à praia e dei uns mergulhinho e curti o sol quente abrasador...como tal não aguentei lá muito tempo. Os amigos A e L levaram-me a almoçar ao /Grill, comi uma lagostinha suada (grelhada), adorei o restaurante, muito bom o ambiente, uma casa de madeira completamente aberta com jardim de relva á volta e um mini parque para as crianças. Depois fomos visitar uma antiga fábrica de açúcar, cheia de morcegos (apanhei alguns sustos, mas foi giro vê-los a descansar de cabeça para baixo enroladitos nas suas asas macabras); em seguida fomos passear junto ao rio Catumbela onde tivémos a oportunidade de visitar os amigos jacarés e os macacos malucos. Depois fomos passear ao lobito velho e bairro da bela vista (de bela vista não tem nada, parece os países arabes, tal é a degradação e falta de cor), e a tarde terminou no TGV, um bar à beira mar, onde apenas saimos após o por-do-sol rosado.
Agora estou em casa e tenho uma discoteca particular aqui ao lado...não sei que colunas de som usam mas a música está tão forte que parece vir mesmo de dentro de casa, fora os berros do pessoal, diria que eram uns 10 ou 20, ms são pouco mais de 4 pessoas...estranho? Nem por isso, aqui é assim.
Tenho de começar a publicar algumas fotos senão a descrição fica um pouco chata.
O dia foi mesmo 5 estrelas, teve direito a familia, praia, almocinho bom, passeio tipo tour e um sunset relaxante...ok e também tem direito a uma discoteca pronto !!!
Amanhã mais uma semaninha de formação interrompida a meio por um feriado de dia 2 de Novembro (aqui comemora-se o dia 2).

Abraçossss cheios de saudade

@Lobito

Já passou uma semana desde a última vez que escrevi. Hoje é sexta-feira dia 28.10.11 e termina mais um curso de formação, este é de secretariado e relações públicas.
O 1º curso que leccionei foi de Relações Interpessoais. Os formandos portaram-se muito bem e corresponderam a todas as expectativas.
É muito recompensador formar “esta gente africana”, são pessoas humildes e sequiosas de conhecimento, e por isso absorvem cada palavra que proferimos, além de nos transmitirem muita alegria.
Hoje tive direito a palmas e a 12 obrigados pela formação, fiquei mesmo feliz!

O meu horário de formação é de 6 horas diárias, das 08.30h às 16h30 com intervalo de almoço das 12.30h às 14h30. É um bom horário, aqui amanhece muito cedo e apetece acordar para espreitar o calor. Em contrapartida anoitece também muito cedo, por volta das 18.30h, e assim ainda tenho tempo para passar na praia e dar um mergulhinho após a formação. Não é todos os dias que se pode mergulhar nas praias quentes e desertas de Africa, certo? Há que aproveitar o momento.
Ainda não tive oportunidade de fazer turismo, tenho tido muito trabalho e não ter carro também não ajuda. Porém, avista-se em breve um feriado (dia 2 de Novembro) e já tenho um convite para ir passear na “selva”, estou entusiasmada!
À semelhança de 2008, aqui tudo o que acontece é sentido com grande emoção, os maus momentos são muito maus, porque estamos isolados da nossa família e amigos e os bons são muito bons pois são momentos que quebram a rotina solitária do dia-a-dia, por isso anseio tanto pelo feriado de dia 2. Felizmente também, temos a tecnologia do nosso lado e tenho conseguido ver e falar com o popey e pinguinha todos os dias, amenizando a saudade dos mais queridos.

O ideal seria viver aqui. Não há paraísos na Terra, é humano querermos sempre mais do que o que temos, mas viver aqui seria um “quase-paraíso”. Por um lado temos um clima muito bom, com temperaturas amenas e quentes, estamos rodeados de mar, o ambiente é calmo, as pessoas são simpáticas e comunicativas e no âmbito laboral tudo o que fazemos é reconhecido e é importante, fazemos mesmo a diferença. Por fim, o lado humano…todos nós devemos contribuir para melhorar a vida de alguém, devemos fazer bem ao próximo.

Recordo-me de ouvir os meus pais dizerem que eu deveria de comer a comida toda pois há meninos em Africa que não tinham esta possibilidade que eu tenho. E eu pensava que não era por comer mais ou menos que os meninos de África comeriam também mais ou menos. Bom…estando aqui, a situação altera-se pois todos os dias damos a comida que sobra e serve para alimentar alguém. Aqui não estragamos comida, tudo se aproveita, e é um bom sentimento este o da solidariedade.

África e nomeadamente Angola é um mundo de oportunidades, mas não podemos esperar que elas nos apareçam, é preciso criá-las, fazer por isso. Pode ser que eu faça por isso e que tenhamos oportunidade de trazer para cá a família, dando uma vida estável e humanamente recompensadora.

Africa Minha… 2ª parte

Cheguei a Angola!

Após cerca de 7 ansiosas horas, sentada numa cadeira de avião, a jogar sudoku intercalando com algumas respostas a emails, sonecas interrompidas por risos e choros de bebés, e de algumas idas à WC, finalmente avistei Africa!

O sentimento era misto, por um lado sentia-me ansiosa por relembrar todos as emoções agudas que senti da primeira vez que cá estive, por outro senti-me sozinha num mundo novo e inóspito, tão diferente da Europa.

Chegada ao aeroporto, fiz de tudo para seguir as recomendações do meu Popey, fui a última a entrar na carrinha de interligação avião-aeroporto, fui a 1ª a sair da mesma, a 1ª a entrar na fila para dar entrada no país, e fui das primeiras a sair com a bagagem que entretanto já me esperava no tapete rolante.

Incrivelmente tudo parecia ocorrer de forma escorreita. África estava a facilitar-me a vida. Com 30 anos e atenta a todos os movimentos, desta vez África aceita-me como adulta e presenteia-me com sorrisos e amabilidade de boas-vindas por parte de todos aqueles que cruzaram o meu caminho no aeroporto.

Depois de alguns minutos de espera, o condutor Sr. D apareceu e levou-me à casa do Bairro Azul onde fiquei uma noite.

Tive oportunidade de ver um pouco da noite de Luanda, para mim ainda assustadora, escura, pobre e desarranjada. Esta sim a verdadeira Luanda. O sentimento de insegurança invadia-me o pensamento a cada passada, a cada olhar nervoso em torno do ambiente. “Onde está o carro? Onde está o carro?” – só me iria sentir segura quando ouvisse o catching da tranca do carro…e assim foi. Só já dentro do carro, depois de atirar as malas de forma atrapalhada e nervosa, é que relaxei e senti os músculos do corpo a latejarem discretamente.

Claro que passei também pela falsa Luanda, a cidade mágica e de excelência, onde os ricos são realmente ricos e os carros competem pelas polegadas das suas jantes…é um mundo de Bling…um mundo brilhante onde o dólar vence tudo. Fui jantar a um dos vários condomínios privados, rigorosamente guardados por militares…senti-me segura.

O cheiro africano estranhei a ausência.
Estava à espera de o sentir assim que chegasse ao aeroporto de Luanda, mas na realidade só o senti no dia depois quando cheguei ao Lobito, a minha casa durante 3 semanas de formação.

A selva ainda continua selva, verde como não há igual. As crianças ainda brincam descalças e empoeiradas, riem…riem. Tranquilizo-me ao ver felicidade entre as paredes da pobreza. Ficamos cheios!

Chego a um palácio divinal, uma mini mansão de 3 andares, completa por janelas de vidro de alto a baixo e espelhadas que nos trazem luz mas reflectem privacidade. Uma sala acolhedora com espaços amplos dá-me as boas-vindas e direcciona-me para o 2º andar para um dos 3 quartos. Escolhi um dos que tem vista para a baía, e a partir do qual desfruto do nascer do sol, rosa alaranjado. Um quarto simples que não deixa faltar nada essencial, nem mesmo o AC para controlar os imperiosos mosquitos. Afinal esta pode ser a sua terra mas aquele espaço é meu por direito durante 20 dias. “Aqui quem manda sou eu e o meu AC, mosquitada podem fazer as malas e sair.”

No domingo, acordei para o meu 1º dia de Lobito…rodeada de mar à frente e atrás, senti o chamamento e após o almoço tive de ir espreitar a praia da restinga. Praticamente vazia e praticamente virgem, fez-me lembrar as praias escondidas do Algarve, onde a areia é crua e o mar nos invade. Suspirei de paz, senti-me a relaxar. O sol morno marcava as 15horas.

Um dia calmo onde o cheiro a maresia africana tomou conta de mim e até hoje me empresta um pouco da paz angolana. Estou bem.

A par do desenvolvimento de infra-estruturas, dou-me conta de maior civismo, mais silêncio, mais cumplicidade entre as pessoas. Algo mudou…

Sinto como que uma cultura pré-europeia a querer contaminar as raízes pouco sociais de África…será a evolução comum da sociedade? Parece-me que sim.

Com direito a um por-do-sol laranja espectacular, senti-me abençoada por ter mais esta oportunidade de dar formação a quem precisa, ajudar quem quer ser ajudado, dar a minha contribuição e ainda por cima, ser paga para isso…muito bom! É isto que quero levar da vida, experiências de auto e hetero-conhecimento e ajuda, de aprendizagem e de formação humana…muito bom!

Os dias têm corrido bem, não tenho possibilidade de fazer muita coisa, além de trabalhar e de enganar a saudade da família com recurso ao skype e a conversas longas com o popey. A família está bem é o que realmente importa.

Os formandos riem com a formação, aprendem, absorvem, tenho o meu reconhecimento todos os dias, sinto-me feliz!

Ontem depois da formação fui à praia, completamente deserta, embora central. Mergulhei num oceano vazio de pessoas e contemplei um sol que parecia querer tocar a água tornando-a quente. Foi muito bom, seria tão bom se pudesse terminar o dia sempre assim.

Amanhã será o último dia da 1ª semana de formação, amanhã saberei o que os meus formandos pensam da formação.